Os Mecanismos de defesa


A estrutura psíquica principal se forma no início da vida, especialmente nos três primeiros anos. O papel do cuidador é fundamental, auxiliando a criança a entender como administrar o subjetivo (o que é de si) do objetivo (o que é do outro). Nesse sentido, crianças abusadas ou negligenciadas no início da vida tendem a ter grandes danos psíquicos por não terem esse apoio no processo de estruturação.

Os mecanismos de defesa ajudam a lidar com a realidade que faz parte do desejo, equilibrando as angústias. O problema é quando esses mecanismos são usados com grau, intensidade e perseverança a ponto de a pessoa não enxergar a realidade.

Vamos ver alguns dos principais mecanismos de defesa:

Repressão: mantém no inconsciente o que incomoda ou angustia.

Dissociação/Cisão: separa o fato da emoção, recalcando a emoção e ficando apenas com o fato. Por exemplo, uma criança abusada que convive com o abusador pode lembrar do fato, mas não da emoção traumática, que pode surgir de outra forma, como uma regressão ou agressividade aparentemente sem explicação. Porém, quando a cisão é recorrente, passa a ser vista como psicose, que é a fuga da realidade.

Conversão somática: quando um conteúdo deseja emergir, mas não encontra espaço, acaba se manifestando como uma doença psicossomática. Uma pista são doenças recorrentes cuja origem não fica clara.

Deslocamento: uma carga emocional é deslocada de um objeto para outro que parece menos ameaçador. Um exemplo de deslocamento são as fobias, quando um conflito com uma pessoa (por exemplo, raiva) é deslocado para outro objeto menos ameaçador. É preciso observar o elemento fóbico e o que ele representa para a pessoa (exemplo: a história do pequeno Hans).

Anulação: tentativa de anular os danos que a pessoa imagina que a pulsão possa causar a si mesma. Um exemplo é o desenvolvimento de uma fantasia, como o TOC, através de um quadro ritualístico para que algo ruim não aconteça.

Formação reativa: o ego toma uma ação contrária ao que está sentindo. Exemplo: a pessoa sente raiva de alguém, mas agrada essa pessoa de forma inconsciente e não dissimulada ou intencional. A tendência é sempre querer agradar o outro, quando no fundo sente muita raiva.

Identificação: a pessoa se identifica com aspectos do outro e os traz para si. Com a frequência do uso, acaba perdendo a própria identidade.

Isolamento: proteção da carga emocional, isolando pensamentos e afetos recalcados.

Negação: a pessoa não aceita ou recusa uma parte do que aconteceu, como alguém que perdeu uma pessoa querida, mas continua agindo como se essa pessoa estivesse viva.

Projeção: a pessoa projeta no outro aquilo que recalca em si mesma. É positivo porque faz com que as pessoas se aproximem através da identificação projetiva, mas o problema é quando, em desequilíbrio, vira uma relação tóxica ou abusiva. A questão é: o que existe no abusado que sustenta essa relação?

Esse fenômeno pode acontecer no trabalho analítico, através dos princípios da transferência e contratransferência, quando o paciente projeta no analista aspectos que são seus, ligados às figuras parentais e cuidadores. Por exemplo, se ele se apaixona pelo analista, na verdade está mostrando a paixão por outra figura importante da sua vida.

Na contratransferência, o fenômeno é inverso: o analista começa a se identificar com a projeção do paciente, assumindo esse papel. Quando o analista percebe esse fenômeno, pode usar esse conteúdo para devolver ao paciente, enriquecendo a sessão.

O que vem do inconsciente passa por algum tipo de transformação, e podemos destacar quatro mecanismos que sustentam o processo primário, ligado ao Inconsciente:

Deslocamento: ocorre quando um elemento representa algo correlacionado, dando então a algo aparentemente insignificante um valor psíquico, como quando se sonha com uma casa e esta se torna a representação do sentimento de proteção.

Condensação: reúne uma série de elementos diferentes/separados, mas com alguma afinidade, gerando um significado através da reunião dessas informações.

Projeção: algo que está recalcado no eu é transferido como sendo do outro.

Identificação: acontece quando aparece a afinidade com algo ou alguém (o que há em mim e gosto, vejo no outro também).

A projeção e a identificação são processos muito ligados ao deslocamento, e dessa forma, nem sempre aparecem como separados.



Imagem Canva

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