A difícil arte de esperar
Quando estamos diante de uma criança com algum tipo de transtorno, seja no ambiente familiar ou educacional, muitas são as incertezas: será que essa criança conseguirá ser independente? Será que conseguirá acompanhar a aprendizagem? Será que meu filho vai falar? Vai ter que tomar medicação sempre? Meu aluno vai conseguir escrever um texto?
Para todas essas questões, temos algumas respostas, mas uma delas é: não existe apenas uma forma de ver ou conseguir algo. Pode ser que seu desejo ou objetivo não venha da forma esperada, e somente depois de muitos anos, muitas terapias e acompanhamentos, você verá resultados. No ambiente escolar, a cobrança para seguir um currículo e mostrar resultados é ainda maior. Sempre passo para as professoras que a educação especial é um treino de paciência, um objetivo de cada vez, passos de formiguinha, baixando as expectativas e anseios em relação a essa criança. Vejo o quanto os anseios de pais e professores, muitas vezes, dificultam o processo de inclusão.
Uma mãe, esses dias, questionou se algum dia seu filho iria falar (criança com TEA, 6 anos, nível 3, sem comunicação verbal). Neste caso, mostrei à mãe a importância da criança se comunicar, fazer-se entender, e isso não acontece apenas através da fala. Em outro caso, a mãe queria ver o filho na apresentação escolar junto com os outros. A expectativa dela era tão grande que não percebeu o sofrimento do filho diante das pessoas que estavam assistindo. Uma professora estava ansiosa para que seu aluno segurasse o lápis da forma correta e escrevesse (aluno com TEA e grande dificuldade motora). Em todos esses casos, percebemos a ansiedade para que a criança tenha uma atitude, que muitas vezes ela já tem, mas não da forma comum. Certos objetivos e expectativas serão alcançados de forma alternativa, porque não existe uma fórmula certa.
Vivemos dias em que essa questão é levantada a todo momento. Existem várias formas de realizar algo e todas estão certas. Existem vários caminhos a seguir para chegar ao mesmo local. Quebrar paradigmas e mudar o pensamento e as atitudes não deve ocorrer apenas no ambiente escolar, porque a sociedade precisa "normalizar" o atendimento a um ritmo um pouco mais devagar. A vendedora objetiva que não faz contato visual ou sorri, a criança que corre e grita em locais públicos, o funcionário disperso e atrapalhado, o aluno que só aprende oralmente—todas essas situações são exemplos. Olhe para o seu contexto e veja se há algo nele que você precisa mudar. Muitos são os modos de fazer para alcançar um mesmo resultado.
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