Uma lata de tinta, pincel e trincha
Como contei no post anterior, tenho tido muito trabalho para realizar as pequenas reformas em casa, mas estou fazendo tudo com calma, até porque o físico franzino não me permite grandes ousadias. Os móveis que permanecem no mesmo lugar por algum tempo acumulam pó e impiedosas traças, vamos guardando caixas e embalagens de produtos que muitas vezes já nem possuímos, e isso me fez lembrar o quanto é trabalhosa uma mudança completa. Por esse motivo não compreendo muito bem aquelas pessoas que vivem com a mudança sobre o caminhão quando tem condições de morar em um mesmo lugar por algum tempo.
Minha mãe tem um hábito, não gosta de permanecer com o ambiente arrumado do mesmo jeito por um longo tempo. Quando eu morava lá ela dizia "Bia, muda essa sala pra mim....". Eu torcia o nariz porque não costumo mudar móveis de lugar, a não ser para substituí-los por outro melhor ou mais adequado. Mas fazia para aquietar sua alma que enjoava tão fácil das coisas.Já os anos me ensinaram o desapego. "Tralhenta" por natureza, a cada seis meses faço uma limpeza mais profunda, doo o que não uso há algum tempo e procuro me desvencilhar de coisas que eu "poderia usar algum dia"...por isso mesmo não entendo a quantidade de sacolas que diariamente tem ido parar no lixo, que por sorte é separado e reciclado. No meu condomínio há um senhor "carrinheiro" que todo dia arruma e separa o lixo, uma pessoa que admiro muito por sua educação e capricho no exercício dessa função tão menosprezada por alguns ignorantes da sociedade.
Há ainda os metódicos, como bem lembrou o Sérgio, do blog De olho nos detalhes, aqueles que gostam de cada coisa em seu lugar e se incomodam com mudanças. Eu já fui bem metódica (o que não quer dizer necessariamente organizada), e até hoje sei quando alguém mexeu nas minhas coisas porque automaticamente registro como deixei cada objeto e onde...mas já sou bem mais tranquila em relação a deslizes nesse sentido.
Relacionando essas características, penso que essas posturas podem ter a ver com o estado de espírito e pessoalidade de cada um. Observando, percebo que aqueles que mudam o tempo todo, de casa, de estilo, de trabalho, tendem a apresentar uma certa inquietação da alma, me parecem pessoas que não estão confortáveis com algo que se passa interiormente e não conseguindo perceber ou contornar essa sensação, acabam por exteriorizá-la no ambiente que as cerca.
Extremamente metódicos (e isso baseada em como experiência própria), penso ser um meio de sentir segurança e/ou necessidade de demarcar os limites da personalidade. O conhecido nos conforta e acolhe, ainda que faça sentido só pra si. Contudo, quem não liga para nada disso pode estar sendo negligente consigo mesmo, como se sua vida e os cuidados que a cercam não merecessem atenção ou não fizessem sentido. Inclusive um dos sinais da depressão é deixar de cuidar da casa ou de sua aparência e saúde.
E há a mudança do bem, aquela que reflete uma nova fase, novos objetivos e estado de espírito, aquela mutação natural da vida que é saudável e para a qual por vezes somos tão resistentes...diria que é nesse patamar que me encontro agora. Tirando um pouco as cores e acrescentando mais leveza e branco e preto. Cor só nos detalhes para dar graça. Simplicidade, porque o simples é belo e perfeito. Ficando somente com o necessário e dispensando o supérfluo que pode ser útil, mas toma um tempo precioso que pode ser gasto vivendo. E se um dia eu resolver partir para outra moradia, será bem menos trabalhoso.
Mudar, organizar, evoluir...bem dosadas trazem novas cores para a alma. Ela pede novas nuances com o passar dos anos. Permanecer da mesma cor pode deixá-la desbotada e sem vida, e nesse caso, só um rolo ou trincha encharcados de ânimo, alegria e bons motivos serão capazes de recuperá-la.
Livre dos supérfluos pesos do "ter" ou "parecer" da sociedade fica bem fácil perceber que precisamos de muito, muito pouco para ser feliz.
"Os pensamentos que escolhemos pensar são as ferramentas que usamos para pintar o quadro de nossas vidas."
Louise Hay
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Uma imagem, 140 caracteres, 5ª edição
Era noite e estava frio. Pelo caminho estreito apertou o
passo para alcançar os amigos... sabia que, com eles, estaria segura.
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