Os monges e a cortesã



Dois monges estavam caminhando pela floresta quando viram uma bela cortesã às margens de um córrego inundado. como haviam feito voto de castidade, o mais jovem ignorou a mulher e atravessou o córrego bem depressa.

Percebendo que a bela mulher não poderia atravessar o córrego em segurança, o monge mais velho a segurou nos braços e a carregou até o outro lado. Ao chegarem à outra margem, ele a colocou de volta no chão. Ela agradeceu com um sorriso e os dois monges seguiram em frente.

Ao relembrar o incidente inúmeras vezes, o mais jovem foi ficando cada vez mais agitado.
"Como é possível?", ele pensava com raiva. "Será que o voto de castidade não significa nada para o velho monge?" Quanto mais o jovem pensava sobre o que presenciara, mais zangado ficava e a luta em sua mente se exacerbava. "Ora, se eu tivesse feito uma coisa dessas, teria sido expulso da ordem. Isso é revoltante. Eu posso não ser monge há tanto tempo quanto ele, mas sei distinguir o certo do errado."

Olhou para o monge mais velho mais ver se ele, pelo menos, demonstrava algum remorso pelo que fizera, mas o homem continuava sereno como sempre.

Finalmente o jovem não pode mais suportar aquela situação e falou: 
- Como pôde fazer uma coisa dessas? Como pôde sequer olhar para aquela mulher, quanto mais levantá-la no colo e carregá-la? Esqueceu-se de seu voto de castidade?
O  monge mais velho mostrou-se surpreso. Em seguida sorriu com enorme bondade nos olhos:
- Eu não a estou carregando mais, irmão. E você está? 

Pare um pouco, pense, e se quiser, comente: o que o texto o (a) fez pensar/sentir?

Continuando...

Estou relendo "Você pode mudar sua vida" (não que esteja ruim, rsrsrs) e reli esse texto* após atender uma pessoa que foi muito magoada e por consequência magoou muito, no passado. Vivendo hoje em outro contexto, não conseguia perdoar, se perdoar e remoía as lembranças do que havia acontecido, acabando angustiada e travada pelo medo. Presa ao que passou não conseguia compreender que a escrita do futuro pode ser diferente, e feliz.

Vejo vários sentimentos/atitudes paradoxos e implícitos nesse conto: intolerância/generosidade; perdoar e se perdoar; medo e coragem; radicalismo/flexibilidade; egoísmo/empatia; até que ponto o comprometimento é saudável; prisão/libertação, apego/desapego, interpretações precipitadas - nem tudo é o que parece.

 Quem seria melhor:o monge aprendiz ou a cortesã?

O que você pensou ao ler pode refletir muito do que sente nesse momento. :)


*no livro o texto refere-se à lembranças amargas que precisam ser deixadas "à margem do córrego" e ao excesso de autocrítica que precisa ser controlada.

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