Suicídio: um tema delicado e importante
Hesitei escrever sobre um tema tão delicado, mas acredito que nada é mais urgente que cuidar da vida. Mortes que acontecem por iniciativa própria são um tabu por serem ocultadas, alguns membros religiosos se recusam a encomendar corpos - atitude que não concordo - e famílias carregam estigmas deixados por seus entes que não suportaram viver.
O que me preocupa é a popularidade que tem se dado ao ato. É preciso pensar nos impactos que um suicídio causa nas pessoas que a cercam. Convivi de perto com uma família que perdeu alguém assim e vi o quanto isso causa sequelas em quem ficou para o resto de suas vidas, imagino o impacto que pode ter em uma rede social. É o caso para as famosas "curtidas" tão banalizadas no mundo virtual?
Sigmund Freud abordou o suicídio principalmente dentro do contexto da psicanálise, considerando-o como uma manifestação extrema de conflitos internos e desordens psíquicas. Para Freud, o impulso autodestrutivo poderia surgir de um desejo inconsciente de acabar com o sofrimento psíquico ou como resultado de uma pulsão de morte inerente ao ser humano. Ele via o suicídio como um ato complexo enraizado em fatores psicológicos, incluindo sentimentos de desamparo, culpa, desesperança e raiva dirigida tanto para dentro quanto para fora.
Estudando e observando o assunto posso citar alguns fatores que silenciosamente levam a pessoa a tal iniciativa:- Não se sente compreendida, tenta abertura para falar sobre o que sente mas não tem espaço, ou é mal interpretada, ou, na tentativa de atenção, recebe de volta uma inversão de jogo, onde acaba se sentindo julgada ou culpada. Sente-se sufocada.
- Criada em uma cultura do "não incomodar" passa a mostrar uma aparência de satisfação e felicidade, quando no íntimo está sofrendo muito, ou seja, não se sente à vontade para compartilhar seu sofrimento. Sente-se no limite.
- Está cansada de carregar os diversos percalços da vida, está sobrecarregada, sem apoio, sem ter com quem dividir seu cansaço da vida... o mesmo que vai desanimando e fragilizando ao ponto de não encontrar forças para enxergar um meio de reagir. Ou não tem mais objetivos, ou tem planos mas não se sente capaz de dar o primeiro passo. Sente-se deprimida e impotente.
- Distanciou-se demais da própria essência, tentando atender expectativas ou alimentar a autoestima com likes, e não sabe como fazer o caminho de volta para si.
- Atualmente, tem-se visto muito o reflexo das gerações superprotegidas, que não sabem lidar com as frustrações ou com a pressão da vida real, e acabam sucumbindo por não saberem como lidar com isso nem lidar com as próprias fraquezas.
- Por conta de dores nos relacionamentos com as quais não se sente capaz de lidar.
- Por carregar um padrão considerado perverso, inadequado ou estranho, e temer o julgamento das outras pessoas se descobrirem estes traços.
A linha que divide a vida e a morte é muito tênue e cabe a cada um escolher se deseja ou não quebrá-la. Não está aqui o julgamento sobre quem escolheu a partida, cada um sabe o quanto é capaz de suportar. Não há questionamentos sobre egoísmo ou coragem, ser uma boa ou má pessoa, afinal, todos estamos suscetíveis a passar por momentos tão difíceis que nos parecem insuportáveis. Podemos encontrar atenção em redes sociais, mas é preciso compreender o uso desse potente instrumento de comunicação e seu alcance.
Divulgar o sacrifício da própria vida não gera frutos produtivos e pode incentivar a popularização de algum tipo de modismo irreparável.
Quem sabe um caminho seja tirar o botão curtir da rede e levá-lo para vida, mudar o foco sobre os objetivos, usar lente micro para as perdas e macro para os ganhos, ou buscar ajuda* para voltar a tornar a linha entre a vida e a morte um limite resistente e entregue aos caprichos do seu tempo.
.jpg)
.jpg)
.jpg)

.jpg)