Ciclos da vida: entre finais e recomeços




"Do pó viemos, para o pó voltaremos". Essa citação sempre me remete a pensar no tamanho do que somos ou representamos, e mais além, de quanto nossa vida é feita de finais e recomeços. Isso imediatamente me lembrou a Teoria do Big Bang. É maluco imaginar que esse universo imenso surgiu de uma explosão que criou o espaço-tempo, modificou a temperatura e as cores do cosmos e causou a união dos elétrons aos núcleos atômicos, permitindo à luz caminhar livremente. Certamente não estaríamos aqui se não houvesse acontecido tudo isso.

A vida é feita de ciclos e os finais podem parecer o caos. Quando mais jovem eu recebia essas finitudes com a sensação dramática de que tudo estava acabado, de que não haviam saídas ou meios de recomeçar de forma diferente. O passar dos anos me fez perceber que a dor sempre permeia o ser humano de alguma forma. Por algum motivo não é possível passar a vida incólume a ela, aos sofrimentos que nos fazem crescer e nos tornam melhores enquanto seres humanos. É contraditório, porém inquestionável.

Certamente estou longe de estar livre das angústias, mas vamos percebendo que após o ponto final há a possibilidade de uma página inteirinha em branco para (re)começar um novo capítulo, e então se pode continuar a escrita de forma a aparar as arestas deixadas no capítulo anterior e fazer diferente o que não deu certo ou não cabe mais no que nos tornamos, e assim manter vibrante a sensação de que estamos vivendo de fato.

Mas não se pode negar que passar por esses ciclos é mesmo doloroso e caótico, e compreensível que muitos escolham parar no parágrafo que antecede o ponto final e estacar ali, se agarrando às últimas palavras como uma tábua de salvação, como se essa fosse a única forma de permanecer sobrevivendo com uma dor no mínimo conhecida e, portanto, mais confortável.

Esse blog começou no dia 04/08/2011 em meio a um turbilhão sentimental. Quem me acompanha há algum tempo sabe que, em muitos momentos, refleti em palavras meus medos, dúvidas e aflições. Por incrível que pareça, nos meses mais dolorosos, ou seja, de julho do ano passado para cá, foram os que eu menos tratei de dor. Isso reflete minha tendência, não sei até que ponto saudável, de proteger os outros. Mesmo motivo que me fez parar no sexto e último capítulo da escrita da minha história pessoal.

O que aprendi e guardei nesse tempo vou compartilhando aos poucos para que esse post não se torne imenso. É importante dividir hoje que as escolhas e seus desdobramentos nos acompanham o tempo todo e as minhas foram feitas com base na projeção do que desejo para o futuro, pois com o presente eu conseguiria conviver por um bom tempo. Mas a que preço, se não estava feliz e não vi mudanças contundentes que me convencessem a continuar na mesma?

Outra sensação importante que não diminui a dor mas traz serenidade é saber que fiz tudo o que estava em meu alcance para resolver as questões que abracei até perceber que meus limites não estavam sendo respeitados. Aliás, penso ser essa a essência de tantas mudanças nesse espaço de tempo. Preocupo-me muito em me colocar no lugar do outro, compreender, ceder em alguns momentos, para que a convivência humana seja agradável e promova bem-estar a todos na maior parte do tempo possível. Mas quando essa atenção e preocupação tornam-se unilaterais, é porque o respeito foi deixado de lado. Recuperar respeito envolve comprometimento de todas as partes, o que dificilmente acontece ou dura somente o tempo necessário para que sintam-se seguros novamente e reassumam o antigo padrão.

Começo a escrita do novo capítulo um pouco arredia, com uma certa cautela e desconfiança, características que não combinam muito comigo, mas que se fazem necessárias até que as coisas se acomodem por dentro. Não consigo enxergar alegria plena na desconfiança. Pessoalmente, meu brilho nos olhos está diretamente ligado ao confiar, seja nas pessoas ou na vida. Mas olhando para trás e vendo a maneira como os fatos se entrelaçaram, penso que há um sentido em tudo isso e que vou compreender mais adiante ou talvez eu me agarre a isso para seguir.

Meu maior ganho foi o fortalecimento da fé. A partir do momento em que eu parei de questionar a Deus e passei a entregar meus pensamentos e atitudes em suas mãos, as coisas começaram a se resolver naturalmente. Certamente Ele saberá me conduzir de forma a substituir a sensação de fracasso pela sensação de que escolher a verdade que pulsa no coração e sopra nos ouvidos é o caminho mais contundente para recuperar a autoconfiança e a felicidade.





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